Lauro Freitas Fº - editor do blog Luiz Pineda Mendes, o nosso Tchê, o comentarista da palavra fácil, não nos deixa somente o legado do brilhantismo de seu imenso talento, que fez desse gaúcho de Palmeira das Missões e carioca por opção um dos maiores nomes do rádio brasileiro (e quiçá, mundial) em todos os tempos.
Deixa também o exemplo da sua enorme generosidade, do coração bondoso e gentil, da enorme paixão que demonstrava pela vida, por sua família e pela profissão que abraçou, combustível do permanente entusiasmo que tinha para o trabalho, superando até as limitações impostas, nos últimos anos, pela idade e pela doença.
Apesar de não nos conhecermos pessoalmente – cumprimentei-o umas duas vezes na tribuna de imprensa do Maracanã e falei com ele ao telefone mais um par de vezes –, Mendes e eu tivemos uma história profissional que se estendeu ao longo de 10 anos, para mim muito marcante e que ilustra bem a personalidade rara do mestre que hoje nos deixou.
Era dezembro de 1992 e eu estava para lançar a primeira edição do jornal Agito da Galera, publicação que seria distribuída gratuitamente nos portões de entrada dos estádios de futebol e em eventos esportivos de outras modalidades. Era, como não poderia deixar de ser, um jornal alternativo, de tiragem pequena – inicialmente apenas 5 mil exemplares. Não tinha recursos próprios para investir, mas queria que o jornal tivesse um diferencial. Pensei, ousado, em convidar grandes nomes da imprensa esportiva carioca para “colaborar”, no sentido gratuito da palavra. Mas, como? Não conhecia ninguém no meio esportivo e, por conseqüência, também nunca ninguém tinha ouvido falar no meu nome. Imagine a situação: um ilustre desconhecido chamar profissionais de renome para um projeto alternativo que ainda não havia saído da idéia para o papel e, ainda por cima, pedir para escrever de graça!
Luiz Mendes foi o primeiro nome que surgiu na lista. E o repórter esportivo Eduardo Soares, meu primeiro parceiro no Agito da Galera, se prontificou a falar com o mestre, lembrando uma antiga ligação que havia entre o pai do Eduardo e o grande Mendes.
Generoso ao extremo, Mendes topou na hora. Nem quis saber detalhes do projeto e, segundo Eduardo, nem passou perto de fazer menção à possibilidade de remuneração pelo seu texto. Aceitou e pronto, por prazer, por paixão pelo que fazia e também, tenho certeza, para dar aquela força a colegas mais jovens que se iniciavam na carreira esportiva.
O Agito da Galera começou mensal, mas em razão de dificuldades para angariar patrocínio para as edições, passou a sair sem periodicidade fixa. Assim, foram publicadas 36 edições ao longo de um período de 10 anos – a última saiu em outubro de 2003. E, em todas elas, Luiz Mendes esteve presente. Algumas vezes – poucas – em razão de seus vários compromissos profissionais, a disponibilidade do mestre não bateu com o cronograma de fechamento do jornal. Mas, nesses raros casos, sempre nos autorizou a republicar colunas mais antigas.
Em toda saga do extinto Agito, Luiz Mendes nunca perguntou se já teríamos condições de pagá-lo pela colaboração. Seria mais do que justo e natural. Afinal, tratava-se de uma grife do jornalismo esportivo nacional. Passávamos seis meses, e até mais de um ano com o jornal inativo e, ao retornar o contato, o Tchê estava sempre pronto a nos prestigiar com suas bem traçadas linhas.
Depois, fã de carteirinha que me tornei, presenciei várias palestras sempre encantado com a sua maneira particular de contar histórias do esporte, puxando pela memória reconhecidamente prodigiosa. Suas participações eram, a um só tempo, show e aula.
Por isso, sou eternamente grato a Luiz Mendes. Minha admiração, que já era imensa, virou eterna. Obrigado, Mendes, e descanse em paz!