quinta-feira, 3 de julho de 2008

ENTREVISTA / Edu Antunes Coimbra

Edu, em foto histórica ao lado do irmão Antunes (falecido em 1997), com a camisa do América

Edu, um craque no campo e na vida

Por Milton Duarte
colunista

Tive o imenso prazer de conhecer pessoalmente Edu Antunes Coimbra, o Edu. Que simplicidade! Que simpatia! Aproximei-me dele, num evento que reunia vários veteranos do América Football Club, o “Ameriquinha” como chamamos todos carinhosamente. Disse-lhe que gostaria de entrevistá-lo para o blog ESPORTEAGITO.
Com o mesmo refinamento do seu lindo futebol, atendeu-me EDUcadamente. Não pude ficar para assistir à pelada, aliás, em qualquer tempo e lugar que Edu jogue nunca vai ser
pelada e, sim, uma verdadeira aula de futebol.
Quem, entre aqueles que o viram jogar, não se lembra de seus dribles curtos, passes e lançamentos precisos? Edu conquistou muitos títulos em sua gloriosa carreira, mas o que mais me impressionou em suas respostas – e que todos os leitores vão sentir também – é a sua firmeza de caráter, de moral e de uma conduta ilibada, de decência e respeito ao ser humano.
Um belo exemplo de profissional e, acima de tudo, de ser humano. Isto vem de berço, dessa família Antunes, abençoada sob todos os aspectos.
Leiam a seguir essa entrevista que tive o privilégio de fazer.


Em palestra recente no Rio, o radialista Luiz Mendes lembrou que o “Seu Antunes” lhe confidenciou, certa vez, que considerava o filho Edu o maior craque da família, isto na época em que o Zico já era consagrado. Por que você acha que não teve a mesma projeção no futebol que o seu irmão mais famoso?
- Nunca foi prioridade ter ou não projeção maior ou menor do que qualquer profissional de futebol, mas apenas fazer o meu trabalho com interesse, coragem e total abnegação aos clubes que defendi e defendo. Acima de tudo, honestidade e dignidade, aprendida em casa com meus pais. Essa sim foi a grande vitória da minha vida. Nesse quesito, claro,conseguimos (a família Antunes) todos os títulos que a sociedade nos honrou.
Você é um dos maiores ídolos da história do América, jogou 54 partidas pela seleção brasileira, atuou pelo Vasco e pelo Flamengo, foi campeão pelo Bahia em 75 e artilheiro do campeonato paranaense em 76 e 78. Você se considera, como jogador, totalmente realizado profissionalmente ou ficou faltando alguma coisa?
- Nem como jogador nem como treinador, pois quando a realização acontece, findam os desafios da própria vida, seja ela profissional ou não. A busca pela perfeição nunca me interessou mas, sim, a busca pela decência e respeito humano em qualquer área de atividade.
Ao encerrar sua carreira como jogador, você já havia alcançado a sua independência financeira?
- Independência financeira neste país é coisa para políticos. A independência moral é a que dá mais lucros. Com esta sim me tornei rico sem ser milionário, pois como humano também possuo imperfeições.
Quando você foi treinador da seleção brasileira ainda tinha pouca experiência como técnico. Que dificuldades essa falta de experiência te trouxe no comando da seleção?
- Senti-me orgulhoso e à vontade como treinador da seleção, embora jovem, mas com reais aptidões. Os resultados provaram um aproveitamento médio, ou seja: uma vitória, um empate e uma derrota. Daria para passar adiante mas não houve promessas de continuidade.
Em sua opinião, a CBF errou em escolher o Dunga, que nunca havia comandado um treino na vida, para técnico da seleção principal? E o Dunga errou em aceitar o cargo?
- Quem sou eu para criticar um colega de profissão!? Torço e muito pelo sucesso dele e do Jorginho, jogador que tive a felicidade de revelar.
O Zico afirmou que não aceitaria ser técnico de um clube brasileiro por causa da atual estrutura do nosso futebol. E que só admitiria pensar em treinar a seleção brasileira após a Copa de 2014, quando a atual diretoria da CBF deixasse o comando. No seu caso, são pelos mesmos motivos que há muito tempo você não treina um time aqui no Brasil?
- A perfeita adaptação aos mercados internacionais e calendários anuais, em total respeito aos profissionais da área, foram responsáveis pela verdadeira maratona de atividades que tive nestes últimos 12 anos. Mas deixar de pensar em trabalhar no meu país, jamais. Até mesmo com esta estrutura arcaica e de interesses econômicos pessoais que movimenta o esporte brasileiro nos dias atuais. Sinal dos tempos modernos, mas bem sinto saudade dos moldes mais antigos quando havia total sentimento amadorista, principalmente nas atitudes dos cartolas, verdadeiros abnegados pelo bem-estar e moralidade dos clubes e profissionais.
A imprensa divulgou que uma das causas da não permanência do Zico no comando do Fenerbache foi um desentendimento que você teve com a diretoria do clube turco, o que provocou inclusive a sua saída do cargo de auxiliar técnico. O que há de verdade nessa história?
- O passado não é pra ser remexido nem tampouco tenho autonomia pra dizer em nome do Zico o que de fato ocorreu. Só sei das glórias alcançadas em beneficio do Fener e do próprio futebol turco. Seria mais fácil perguntá-lo diretamente em alguma oportunidade. O que me diz respeito responderei prazerosamente e com todo o conhecimento dos fatos. Meu contrato foi respeitado do início ao fim. Sair de um clube de cabeça erguida e cônscio dos deveres e obrigações cumpridos, com zelo e dignidade, foi o melhor da vida profissional naquele exótico e lindo país.
Como está a sua vida profissional atualmente? Está trabalhando no exterior? Desenvolve algum projeto aqui no Brasil?
- Eu e meu irmão Zico formamos uma dupla capaz e harmoniosa. Aguardarei seu próximo desafio e se ele desejar continuar com minha ajuda profissional, o farei com a mesma força moral e o mesmo interesse profissional dedicados até hoje. Caso contrário, é lógico, terei que analisar futuras propostas de âmbito individual.
Qual o maior desencanto que o futebol brasileiro te proporcionou como jogador? E hoje, como torcedor e observador, o que te incomoda no nosso futebol?
- Não existe desencanto em mim. Não é costume levar em minha cabeça “desgraças” ou coisas negativas do passado. Somente os resultados favoráveis, fixados na mente, ajudam no progresso do homem. É a minha filosofia de vida. E como dizia minha saudosa mãe: “veja sempre o belo em tudo na vida, que alcançarás a beleza dos céus”. Posso dizer que incomoda, em todos os que militam neste esporte, a falsidade, falta de respeito e descrença da maioria dos dirigentes do nosso futebol contra o trabalho dos treinadores.
E o seu América, qual o caminho para que o clube saia do fundo do poço? Você estaria disposto a dar alguma contribuição para isto?
- O América é a maior referência que tenho no Brasil e muito me orgulho por ter contribuído em elevá-lo, em tempos idos, à condição dos grandes e respeitados no país do futebol e nas competições internacionais. Se hoje ocupa uma posição ingrata, há tempo, mérito e condições de dar a volta por cima. Seus dirigentes unidos e contando com a ajuda dos torcedores e simpatizantes, com certeza conseguirão reverter o quadro atual. Da minha parte, jamais deixarei de ajudar o clube quando requisitado. Tenho, sim, alguns planos futuros mas não dependerá apenas de mim realizá-los em plenitude total.

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