segunda-feira, 10 de março de 2008

Coluna / AGITANDO O PAPO



Lauro Freitas Fº
esporteagito@gmail.com

Sonho ameaçado

A grave e inesperada contusão de Dodô, que afastará o craque tricolor dos gramados por pelo menos 60 dias (somando período de recuperação e recondicionamento físico) – nas estimativas mais otimistas – traz contornos dramáticos a uma história que, no início do ano, foi vendida pela diretoria do Fluminense à sua torcida como se fosse um conto da carochinha, ou seja, com final feliz garantido.
Fizeram festa e estardalhaço. Leandro Amaral, em litígio com Eurico Miranda e pretendido por outros grandes clubes brasileiros, desembarcou nas Laranjeiras com status de único titular da equipe e declarando fidelidade e gratidão ao técnico do time, mas amparado numa frágil liminar de primeira instância. Castelo de areia que logo desmoronou.
Com Dodô, bancaram o risco de ficar sem o jogador a partir de maio, quando a Fifa deverá bater o martelo sobre a acusação de doping no caso da cafeína “batizada”. A punição pode chegar a dois anos, o que, segundo o próprio Dodô já admitira em entrevistas, decretaria o fim antecipado de sua carreira.
Trouxeram também o “matador” Washington sob a desconfiança de alguns críticos, temendo por seu desempenho devido aos problemas de saúde que enfrentou.
A galera tricolor (na qual me incluo), entretanto, vibrou. E sonhou com um supertime que tinha Leandro Amaral, Dodô e Washington na frente, Thiago Neves e Conca no meio e, de quebra, um zagueiraço Thiago Silva que de quando em vez resolve dar expediente na artilharia. Sonhou com o título carioca, com a Libertadores, com o Brasileiro e até com o Mundial de Clubes.
Agora a sensação – pelo menos para mim – é a de que o sonho está seriamente ameaçado. E não digo isso meramente por intuição de torcedor. Tive a curiosidade, como jornalista, de consultar no site oficial do Fluminense a relação do elenco profissional montado para este início de temporada. Qual não foi a minha surpresa ao constatar que, dos 27 jogadores inscritos na Copa Rio e na Taça Libertadores, quatro são goleiros. Dos restantes 23 de linha, só três são atacantes (Leandro Amaral já foi excluído): Dodô, Washington e Somália.
Quer dizer, o decantado “poderoso elenco” tricolor tem somente hoje um único atacante, já que Dodô e Somália estão fora de combate. A autoconfiança irresponsável dos cartolas fez com que dispensassem simplesmente todos os atacantes do ano passado, exceto Somália. E olha que eram muitos: Alex Dias, Adriano Magrão, Soares, Jean, Rodrigo Tiuí e Alex Terra.
Só resta então a Washington, além de “Coração Valente”, encarnar também o “Super-Homem”. Não pode se machucar nem ser suspenso, sob pena do técnico Renato Gaúcho ter que improvisar o ataque com Thiago Neves, Tartá ou Cícero e encher o time de volantes – que é o que não falta no grupo.
Se com Dodô, Leandro Amaral e Washington o Flu não foi capaz de chegar às finais da Taça Guanabara, sem os dois primeiros e sem “peças de reposição” (como costumam dizer os treinadores) para o ataque, começo a temer por mais um ano de frustração.
Por via das dúvidas, para não sofrer tanto, vou botando desde já as minhas barbas de molho...

Aparências enganam
Grande parte da imprensa especializada, não só do Rio como também de outros estados, falam da “qualidade” do elenco do Fluminense, colocando-o entre os cinco ou seis melhores do país. Porém, observando cada nome desse elenco, sinceramente ainda não me convenci disso.
Senão vejamos: para a posição de lateral esquerdo, além de Junior César, o clube só tem o pra lá de discutível Gustavo Néri. Você sabia?
Conca e Thiago Neves são os homens de criação do time. Se algum deles não puder jogar ou for deslocado para o ataque, sabe que opções tem Renato Gaúcho? David e Tartá. Animador!

Perfil do botafoguense
Outro dia li no jornal O Globo uma crônica do jornalista Arnaldo Bloch que me chamou bastante atenção. O título era: “O Judeu Alvinegro – É perseguição demais pra um ser humano só!”. No texto, o autor discorre, de maneira bem-humorada, sobre o que ele entende serem traços comuns entre os seguidores da religião judaica e os torcedores alvinegros.
Sem entrar no mérito da comparação, o que achei curioso foi o perfil do botafoguense traçado pelo cronista que, em muitos pontos, bate exatamente com as características da maioria dos torcedores do Botafogo que conheço. Por isso, pincei do texto do Arnaldo os trechos a seguir. Veja se isto lhe soa familiar.
... “Um messianismo endêmico (idéia de que o botafoguense é imbuído de uma missão maior e redentora, herdada) é outro traço presente na longa estrada da tradição judaico-alvinegra.”
... “O alvinegro acredita que é um torcedor diferente, singular, que possui uma identidade que está para além do futebol, da vitória ou da derrota.”
... “E a superstição?...”
... “Contudo, o traço judaico mais marcante no povo alvinegro é o aspecto persecutório. (...) No ‘alvinegrismo’, a idéia de perseguição parte de pressupostos obscuros, metafísicos.”
... “Sempre é bom lembrar que o tricolor Nelson Rodrigues identificava no alvinegro uma propensão à derrota e ao pessimismo (...) Este derrotismo se revelou, por sinal, na última final: entramos em campo com a sensação de vitória, lado a lado com a certeza de que seríamos roubados”.

Beleza campeã
No final de semana dedicado às mulheres veio de Valência, na Espanha, as imagens para mim mais representativas da beleza, da graça e do talento feminino no esporte. Nas finais do Campeonato Mundial de Atletismo Indoor fiquei encantado com a beldade e a performance das nossas brasileiríssimas Fabiana Murer (à esquerda) – medalha de bronze no salto com vara – e Maureen Maggi (ao centro), vice-campeã no salto em distância, e da atleta ucraniana Tetyana Petlyuk (à direita), segunda colocada na prova dos 800 metros. Lindas e vencedoras, como deveriam ser todas as mulheres do mundo.

Nenhum comentário: