segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

ENTREVISTA / Clara Albuquerque, escritora


Apaixonada, a escritora Clara coleciona mais de 30 livros sobre futebol, além de todas as edições da revista ‘Placar’ dos últimos dez anos


Quem disse que futebol não é coisa de mulher?

Por Lauro Freitas Fº

Torcedora de arquibancada desde menininha, a jornalista baiana Clara Albuquerque, de 24 anos, chegou a ser vista como um “ET” ao preferir, quase sempre, um jogo de futebol a uma balada. Mas paixão ninguém explica e a garota, incentivada pela mãe – outra fã de carteirinha do “velho esporte bretão” –, mergulhou fundo no universo futebolístico, estudando e pesquisando até tornar-se uma expert no assunto.
Dando de ombros ao preconceito, a vascaína Clara quer agora provar que futebol pode ser, sim, assunto de mulher (por que não?). Por isso, escreveu e lançou A Linha da Bola – Tudo o que as mulheres precisam saber sobre futebol e os homens nunca souberam explicar!, um divertido manual que ajuda a entender as minúcias desta paixão nacional.
Nesta entrevista exclusiva concedida ao blog do ESPORTEAGITO, por e-mail, a jovem escritora fala sobre essa experiência de ser uma mulher que “ousou” entrar num universo tido como tipicamente masculino e sobre o livro, que já é um dos mais vendidos na categoria de literatura esportiva. Fala, Clarinha!

No país onde todos de “médico, louco e técnico de futebol” temos um pouco, por que os homens nunca souberam explicar às mulheres tudo o que elas precisam saber sobre o esporte. É falta de paciência e interesse ou, na verdade, são poucos os que entendem realmente de futebol?
– Tradicionalmente são os homens que aprendem sobre futebol desde pequenos porque é normal o pai incentivar o filho a ver os jogos na TV, ensinar as regras, quem são os jogadores e levar ao estádio. As meninas são deixadas de fora desse mundo e quando alguma resolve gostar do assunto dificilmente encontra um pai, irmão ou namorado disposto a ensinar sobre o esporte. Felizmente isso tem mudado e a bola começou a ser um presente para meninos e meninas! Eu por exemplo, aprendi muito com minha mãe que é apaixonada por futebol! Espero que o livro cumpra justamente este papel de ensinar de forma divertida às mulheres o que os homens não querem interromper o jogo para explicar.

Você não acha que se as mulheres passarem a entender tão bem ou melhor de futebol do que o sexo oposto, a rapaziada vai se sentir humilhada, porque afinal de contas, dizem!!!, o futebol sempre foi “assunto de homem”?
– Não muito tempo atrás, trabalhar também era “coisa de homem” enquanto as mulheres ficavam em casa tomando conta dos filhos e hoje em dia isto chega a soar ridículo para as novas gerações. Se o futebol é nossa paixão nacional, nada mais justo do que ser a paixão nacional de homens e mulheres. Acho melhor os homens se acostumarem e largarem esse orgulho de que futebol é assunto de homem porque ...

Alguma vez se sentiu discriminada por ser uma menina ou uma mulher que conversa e entende de futebol?
- Discriminada não, mas muita gente estranhava um pouco. Algumas amigas achavam besteira, não entendiam como eu poderia trocar um programa pelo jogo de futebol de domingo. Os meninos no início não acreditavam muito, mas depois adoravam a presença feminina nas discussões intermináveis depois dos jogos. Engraçado que pra mim futebol e mulher sempre foi algo natural, porque aprendi com minha mãe e os jogos sempre foram um programa em família, não tinha diferença entre eu e meu irmão. Ele inclusive sempre adorou fazer propaganda da irmã apaixonada e “entendida” de futebol.

Qual tem sido a receptividade do seu livro? O que as mulheres têm dito a respeito? E os homens?
– A receptividade tem sido muito boa, até maior do que esperava. As mulheres que compraram o livro têm me dito que finalmente vão entender de futebol sem ter que perguntar ao irmão, namorado ou marido impaciente e que ainda por cima têm dado boas risadas com o livro. Os homens têm me dito que acharam um presente perfeito para dar às mulheres e todos que lêem também gostam bastante, pois além de informações que nem eles sabiam, o livro tem uma linguagem divertida.

As vendas vão indo bem?
– Estão indo muito bem! O livro está figurando entre os dez mais vendidos do site
www.livrosdefutebol.com, muito conhecido dos apaixonados por futebol, e é o terceiro mais vendido na categoria livros de futebol da livraria Saraiva.

Já recebeu alguma crítica sobre o seu trabalho em que você identificasse uma ponta de inveja ou ciúme por ser uma estudiosa de assunto tido como prioritariamente masculino?
– Ao contrário tenho recebido muito apoio da mídia especializada. Desde o início, antes de o livro ser lançado, muitos jornalistas elogiaram o projeto. O editor de esportes do jornal de maior circulação aqui em Salvador, por exemplo, Paulo Leandro, participou da minha banca examinadora quando o livro ainda era um projeto de final de curso de faculdade e me incentivou a publicar o livro. As jornalistas da Rede Globo Glenda Kozlowski e Vanessa Riche também apoiaram o projeto desde o inicio e escreveram, respectivamente, prefácio e apresentação. Marcelo Duarte e PVC também torceram pelo livro, Marcelo escreveu o texto das orelhas e PVC fez uma matéria muito legal no programa “Loucos por Futebol” da ESPN Brasil. Além deles tenho recebido apoio de jornalistas da Rede Bahia, SBT, TVE e Sportv, que realizaram matérias sobre o livro.

Até alguns anos atrás, mulheres nem mesmo cobriam futebol na imprensa. Aos poucos foram chegando as repórteres, no rádio, na televisão e nos jornais. Porém, comentaristas há muito poucas e locutoras praticamente não existem. Por que, em sua opinião, a mulher ainda não entrou firme nesse mercado de comunicação esportiva?
– O fato de o futebol ser culturalmente “coisa de homem” influencia muito. Antigamente era ainda mais difícil encontrar mulheres jornalistas que procurassem trabalhar com o futebol, era mais complicado, pois o preconceito de que mulher não entendia de futebol era muito mais forte. Felizmente, isto está mudando, e junto com o crescente interesse pelo esporte acho que as mulheres também começarão a procurar cada vez mais esse segmento do jornalismo.

E você, como jornalista e escritora, pretende continuar trabalhando no futebol? De que maneira?
– Sonhando alto, gostaria de cobrir uma Copa do Mundo de futebol. Com os pés no chão espero compartilhar minha paixão pelo esporte atuando no jornalismo esportivo.

Já tem idéia para o próximo livro?
– Tenho sim, mas ainda está muito verde. Posso adiantar que mais uma vez a proposta é aproximar o futebol de um outro universo.

Qual a sua opinião sobre a decisão da Fifa de afastar a bandeirinha Ana Paula Oliveira do seu quadro de arbitragem pelo fato de ela ter posado nua para uma revista masculina?
– Decisões pessoais não deveriam influenciar o futuro profissional de Ana Paula, mas também acredito que no mundo ainda machista do futebol, é preciso se preservar um pouco mais. Existe o lado dela querer enfrentar o preconceito fora de campo e a sua escolha deve ser respeitada, mas é uma pena porque ela perdeu a oportunidade de continuar brigando contra o preconceito dentro de campo. Pior ainda para o futebol brasileiro, que perde uma excelente profissional e vê o preconceito ganhar mais uma vez.

Resumidamente, qual a sua visão sobre o futebol brasileiro atual, dentro e fora das quatro linhas?
– Fora das quatro linhas, nunca fomos um exemplo de profissionalismo e organização, e neste último ano muito dessa desorganização veio à tona. Basta lembrar a atual situação do Corinthians e o lamentável incidente do Estádio da Fonte Nova.
Uma das faces mais graves dessa desorganização na minha opinião é o êxodo dos nossos craques para o exterior. É compreensível que craques como Kaká e Ronaldinho joguem no exterior, pois com o processo de comercialização e internacionalização do futebol, os melhores atletas passaram a receber salários elevadíssimos e também ofertas “irrecusáveis” para atuarem nos melhores clubes do cenário internacional. Mas deveria existir uma forma de manter um maior número de bons jogadores e principalmente as jovens promessas nos clubes do Brasil, elevando o nível dos nossos campeonatos nacionais.
Dentro das quatro linhas, não podemos mais torcer pelo Botafogo de Garrincha, pelo Flamengo de Zico, pelo Santos de Pelé. Claro que o futebol não é o mesmo e que os torcedores dificilmente deixarão de amar seus times, mas que a qualidade tem deixado a desejar, isso tem. Espero que a expectativa da Copa do Mundo no Brasil traga também uma chuva de profissionalismo para os clubes brasileiros.

O que a Clara vascaína e que acompanha de perto o futebol do Rio espera para a temporada 2008 dos cariocas após a avalanche de contratações feitas pelos grandes clubes?
– O Flamengo e o Fluminense estão muito fortes, fizeram boas contratações, gastando por conta inclusive, e têm boas chances na Libertadores e no Campeonato Brasileiro. Um degrau abaixo está o Botafogo, com um time interessante. O Vasco, para minha preocupação, além de perder Leandro Amaral e Conca, não fez boas contratações e nos resta torcer pelos santos de casa.

5 comentários:

Unknown disse...

Olá! Clara meus parabens pelo livro e pela bela entrevista que ouvi hoje no programa do Falcão.Luiz Leite
Lajeado/RS.

Unknown disse...

Olá Clara meus parabens pelo livro e pela bela entrevista que ouvi hoje no programa do Falcão.Luiz Leite
Lajeado/RS.

Anônimo disse...

Fantastica sua entrevista Claire,estou louca para ler o seu livro,vou pedir a meu irmao que compre e me envie o mais rapido possivel. Parabens
Patricia Kennedy
Galway,Ireland

leonardo ferreira disse...

ola clara,muito legal seu livro,gostei muito de vc,vc é uma experte em futebol mesmo,gostei muito da visita em minha casa,na materia da(leda)se mulher entende de futebol,parabens

Anônimo disse...

Ainda não lí s/ livro,mas acompanho seus comentários no jornal voce é competente,talentosa,linda,charmosa
Mario