segunda-feira, 18 de julho de 2011

ENTREVISTA / Marco Bruno, fundador e diretor da Super Liga de Futsal Rio


‘Federação joga contra o futsal do Rio e a CBFS não está nem aí’

Lauro Freitas Fº - editor do blog

Com toda uma vida dedicada apaixonadamente ao futsal, primeiro como atleta das principais equipes do Rio na época áurea da modalidade e das seleções carioca e brasileira e, depois, como técnico e dirigente dos mais atuantes, o professor Marco Bruno sofria e se indignava ao ver o abandono a que o esporte foi relegado nos últimos anos em nosso estado, menosprezado pela cartolagem dos clubes e vítima da incompetência de diretorias que se sucediam no comando da federação estadual.

Cansado de dar murro em ponta de faca e de esperar em vão por uma mudança de atitude na cúpula do futsal carioca, ele resolveu transformar toda sua indignação em ação e, em fevereiro de 2010, junto com um grupo de salonistas – tão abnegados e apaixonados quanto ele – fundou a Super Liga de Futsal Rio (SLFR), com o objetivo de reavivar a modalidade que já caminhava para a extinção.

Logo na sua primeira edição, o campeonato da Super Liga trouxe de volta às quadras equipes e camisas que há algum tempo não eram vistas pelos fãs do futsal. O estrondoso sucesso da iniciativa fez com que, na edição seguinte – realizada no segundo semestre do ano passado – a SLFR ampliasse as categorias em disputa, cobrindo desde o sub-9 até o adulto.

Tal foi a força do agito, que a Federação de Futsal do Estado, incomodada pela constatação da própria incompetência, retomou em 2011 o calendário de competições oficiais procurando pegar carona no sucesso do modelo implantado pela Super Liga. Além disso, o surgimento da SLFR estimulou que outras entidades independentes, que existiam inclusive há mais tempo, também promovessem seus campeonatos e torneios, chegando ao ponto de estarem em disputa, paralelamente neste primeiro semestre, nada menos que seis títulos cariocas, municipais ou metropolitanos – quatro no masculino e dois no feminino – alguns deles com participação das mesmas agremiações.

Contudo, Marco Bruno acha que ainda está muito longe a redenção do futsal do Rio de Janeiro e faz contundentes e justificadas críticas à “fisiologia política do esporte no Brasil” e “aos dirigentes que visam apenas aos interesses pessoais” na condução das entidades que regem a modalidade.

Nesta entrevista exclusiva ao ESPORTEAGITO, Marco Bruno abre o jogo e expõe com a característica franqueza o seu ponto de vista. Um grito de alerta para quem sonha em ver o futsal carioca de volta ao patamar que merece e do qual nunca deveria ter saído: o de protagonista.

Pra começo de conversa, fale um pouco sobre a sua trajetória no futsal.

– Atuei como jogador a vida toda em clubes de expressão do antigo futebol de salão (Flamengo, Fluminense, Vila Isabel, Carioca E.C., AABB, Palmeiras /SP), além de vestir a camisa das seleções carioca e brasileira. Depois fui treinador de futsal atuando no Vasco, Flamengo, River; no Japão, Estados Unidos, Mato Grosso, Santa Catarina, e nas seleções carioca e do Mato Grosso, dentre outras equipes. Como dirigente, fui gerente geral do departamento de futsal do Vasco por mais de 10 anos, vice-presidente técnico da Federação de Futsal do Estado do Rio de Janeiro e um dos fundadores da SLFR. Sou professor de Educação Física formado pela primeira turma da UERJ.

Quando a Super Liga foi fundada, em 2010, o objetivo era resgatar o futsal carioca, principalmente nas categorias de alto rendimento (sub-20 e adulto), que estava relegado ao abandono, tanto pela Federação Estadual quanto pelos próprios clubes. O que a proposta da Super Liga tinha de tão diferente que motivou logo de cara a volta às quadras de equipes que há muito não competiam, a não ser nas categorias de base?

– No curto prazo a proposta da SLFR para atrair os clubes, àquela altura em estado de pobreza total, era o custo zero para as nossas competições. A médio e longo prazos, era restituir ao salonista fluminense a auto-estima totalmente abalada por anos de desgoverno e negligência em nosso futsal.

Depois do sucesso que foram as duas primeiras edições do campeonato da Super Liga, parece que a Federação se sentiu incomodada e decidiu promover um Carioca “mais robusto”. Porém, no caso específico das categorias principais (sub-20 e adulto), as melhores equipes do estado – Botafogo, Fluminense, Vasco, USS/Vassouras, Madureira, São Cristóvão, etc. – que estavam na Super Liga debandaram para o torneio oficial. Por que isto ocorreu?

– Primeiramente, algumas destas melhores equipes continuaram na SLFR, como é o caso da USS/Vassouras, fundadora da Super Liga. Na SLFR, o Madureira é o Vila Isabel. Aqui, novamente a visão imediatista dos clubes, decorrente de suas condições financeiras ainda debilitadas, fez com que eles sucumbissem à pressão e chantagem e retornassem para a FFSERJ, que na verdade continuava inapta para realizar os seus campeonatos. Ocorreu, entretanto, que por divergências filosóficas, não aceitamos mais a convivência com o dirigente responsável pelo ex-patrocinador da SLFR. Desta forma o referido patrocinador retornou para a Federação, de onde um ano antes havia sido exonerado. A FFSERJ, à beira do colapso total, não teve como fechar as portas para o ex-exonerado, tendo portanto que se subjugar a ele. Aí então, eles juntos se voltaram contra a SLFR

É por isso, então, que a SLFR – que em menos de um ano chegou a ter um número excessivo de clubes querendo participar, tinha o patrocínio de uma rede de supermercados, apoio de um conhecido programa esportivo (na CNT) e até seu próprio programa de tevê em um canal por assinatura – perdeu o patrocínio e o apoio para o campeonato da Federação? Houve um esvaziamento da Super Liga?

– A SLFR continua forte, apesar de tudo. Fizemos uma competição na base com 16 clubes, enquanto a da federação tinha 13. Nas categorias sub-15 e 17 tivemos 12 clubes, o mesmo número da federação. Não queríamos fazer o sub-20 e o adulto no primeiro semestre, mas tivemos que atender o desejo dos clubes e fizemos um campeonato com seis equipes no sub-20 e oito equipes no adulto. É claro que se perder um patrocinador de um momento para o outro, e ainda mais ver este patrocinador se voltar contra você, com todas as forças bajuladoras que passaram a lhe cercar, não foi o ideal para a SLFR. Mas a Super Liga, enquanto movimento de vanguarda, jamais poderia trair seus conceitos e se vender para interesses escusos e pessoais. Portanto, o fundamental para nós naquele momento era não ser extinto, para a partir daí continuarmos a nossa luta. Graças a Deus e aos salonistas do bem do futsal do RJ, conseguimos.

Até a primeira quinzena de julho estavam em curso pelo menos quatro campeonatos de futsal de âmbito estadual na categoria adulto masculino e dois no feminino. Na sua avaliação, isto é bom ou ruim para a modalidade? Até que ponto a SLFR contribuiu para esse “boom” de competições?

– Humildemente acho que a contribuição da SLFR para este momento foi marcante, com toda a certeza. Independentemente do que venha acontecer com o movimento SLFR, ele já entrou para a história do futsal do Rio de Janeiro.Quando alguém no futuro se referir ao futsal do Rio, vai falar: ‘antes ou depois da SLFR’.

Apesar disso, porém, as arquibancadas das quadras, via de regra, continuam vazias e o grande público não sabe que as competições estão rolando. O que fazer para melhorar esse quadro?

– Como disse foram muitos anos de desgoverno e amadorismo na gestão do futsal do Rio de Janeiro. Perdemos espaço na mídia para outras modalidades que surgiram mais recentemente, tais como: showbol, beach soccer, futebol de sete, etc... Temos de continuar trabalhando. Mas com gente que ame e se dedique integralmente ao futsal. Não podemos mais dar espaço a pessoas que investem episodicamente por interesses momentâneos e particulares e depois deixam tudo pior do que estava antes.

Como se explica o fato de clubes que disputam simultaneamente mais de um campeonato, como é o caso do América, Grajaú Country e São Cristóvão e outros? São as mesmas equipes ou apenas usam o nome das agremiações?

– Normalmente são as mesmas equipes, que trocam de nomes por se submeterem às pressões e arbitrariedades da entidade “oficial”, que na verdade deveria, ao contrário, incentivar e incrementar a prática do futsal.

Como é atualmente a relação entre a federação e as diversas ligas de futsal? A entidade apoia as ligas ou tenta dificultar o seu desenvolvimento? E a Confederação Brasileira já demonstrou algum interesse em incentivar as ligas no Rio de Janeiro?

– Ótima pergunta. Todos nós, que conhecemos um pouco dos bastidores desse meio, sabemos a fisiologia política do esporte no Brasil. É o popular toma lá, dá cá. É claro que a federação só quer dificultar não só as outras ligas, como de resto o futsal do estado de um modo geral. No Rio de Janeiro, a federação acha que fazer campeonatos com os clubes pagando mensalidades e taxas já é o suficiente. Enquanto isto, a CBFS não está nem aí para o que acontece por aqui, desde que na hora das eleições o voto do Rio de Janeiro seja de quem esteja no poder.

Você acredita que o futsal carioca possa retomar o patamar de importância que tinha há alguns anos no cenário nacional até as Olimpíadas de 2016 ou isto ainda é um sonho? Por quê?

– Enquanto a mentalidade dos nossos dirigentes, sem representatividade alguma no futsal nacional e internacional, for a reinante no momento vai ser muito difícil sairmos da atual situação. Os nossos clubes compactuam com entidades que enfocam o futsal apenas como um comércio. A FFSERJ, que está com uma nova diretoria já há dois anos, não conseguiu nem fechar uma Assembleia Geral Ordinária de 2009, e pasmem, não tem nem um letreiro em sua acanhada sede alugada no bairro do Maracanã.

Que caminho a Super Liga vê como mais positivo para a modalidade: tentar compor com a federação, unindo forças; propor uma espécie de aliança com as demais ligas independentes para a realização de um grande campeonato paralelo, ou fortalecer a ideia de várias competições paralelas, como ocorre neste momento?

– Acho que unir forças é sempre o ideal.Todavia, prioritariamente, precisamos no futsal do Rio de Janeiro, sobretudo neste momento, de trabalho e de pessoas que se dediquem integralmente ao trabalho de forma profissional, e não somente visando a subsistência pessoal. Salonistas que amem o futsal e vivam intensamente a nossa modalidade. O futsal do Rio, às vésperas de nossa Olimpíada, não suporta mais os famigerados abnegados eventuais, que de um momento para o outro desistem e nunca mais aparecem em uma quadra de futsal.

E quanto ao futsal feminino, quais são os planos da Super Liga?

– O futsal feminino é o nosso xodó. Fomos os responsáveis, em 2007, por apresentar o dirigente Ferreira a então diretoria da FFSERJ, quando na ocasião foi realizado o melhor campeonato feminino da história do futsal fluminense. Algumas entidades extra-oficiais, além da FFSERJ, já estão fazendo atualmente competições no feminino. Aqui também uma junção seria o ideal.

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