quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Opinião /Cortina de fumaça

Rogério Lessa Benemond
jornalista colaborador do blog

Sobretudo os erros conjugados do bandeirinha e do juiz na finalíssima do Estadual de 2007, que abortaram a dupla virada que o Botafogo imporia ao arqui-rival Flamengo, mas também as falhas grotescas da dublê de bandeirinha e modelo de revistas masculinas Ana Paula na semifinal da Copa do Brasil, lançaram uma cortina de fumaça sobre o trabalho que Bebeto de Freitas vem desenvolvendo no clube.
O próprio Cuca, técnico que ajudou a colocar o time num patamar muito superior ao dos últimos anos, vestiu a carapuça e, segundo uma entrevista do volante Túlio, teria declarado ao grupo que se considerava um “pé-frio”.
Essa postura admite não apenas os erros que citei, mas também os estranhos sorteios sucessivos de Dodô para o antidoping, que resultaram na suspensão do artilheiro quando o Botafogo se mantinha líder do Brasileirão há várias rodadas.
Agora, de volta ao G-4 do Brasileirão e tendo ganhado de todos os rivais no Estadual deste ano, já é possível enxergar de novo um Botafogo bem administrado, cujo presidente faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES, o “Conselhão” de Lula), cujas contas de 2007 acabam de ser aprovadas por unanimidade - será essa transparência que tanto incomoda?
Um clube que em breve ganhará um estatuto moderno, democrático e que, principalmente, conta com um cinturão em torno do Engenhão e de Marechal Hermes para plantar craques e torcedores, equilibrando uma nação que talvez esteja muito concentrada na Zona Sul.
As boas notícias já começam a chegar. De acordo com o DataFolha, a torcida do Botafogo, 10ª entre os adultos, figura em 7º lugar no meio da garotada. Melhor ainda: os alvinegros estão espalhados por todo o Brasil.
Mas uma grande administração se faz também reconhecendo erros, e a punição “apenas” com multa sobre o salário de Diguinho, pego em flagrante numa boate às vésperas de clássico contra o Fluminense, mostrou que a diretoria não repetirá atitudes como a suspensão de Zé Roberto no ano passado, antes do jogo decisivo contra o São Paulo, que carimbou o passaporte do time paulista para o título, em detrimento do próprio Botafogo.
Como a incrível derrota para o River Plate, em Buenos Aires, me pareceu resultado de uma crise entre o elenco e o colaborador Carlos Augusto Montenegro, creio que apenas o episódio do “chororô” – um desabafo guardado desde a final do Estadual de 2007 - ainda não tenha sido bem respondido pelo Botafogo. E a conquista do bicampeonato da Taça Rio – mesmo com a absurda expulsão, aos 30 minutos do segundo tempo, com o jogo empatado em zero a zero, do lateral Alessandro, que vinha puxando os contra-ataques e já tinha mandado uma bola na trave – poderia ter sido usada para mostrar que o Botafogo “chora” também na vitória, sem falar no pênalti clamoroso em Wellington Paulista, muito mais evidente que o marcado sobre Fábio Luciano na final da Taça GB contra o Fla.
Para mim está claro que, mantendo-se nesse caminho, valorizando Marechal Hermes, Engenhão e buscando suas raízes, sobretudo em Minas, Espírito Santo, Brasília e João Pessoa; com uma política de comunicação semelhante à que vem ajudando a popularizar o São Paulo, o Botafogo terá reencontrado seu destino vitorioso.
Mas há duas ressalvas. Claro que um título internacional seria fundamental para as pretensões do clube. Além disso, o presidente Bebeto de Freitas às vezes justifica a timidez do investimento nas categorias de base argumentando que a legislação – leia-se Lei Pelé - não protege os clubes. Tem razão, presidente. Mas o papel histórico do Botafogo é vencer batalhas impossíveis, pois há coisas (boas) que só acontecem ao Glorioso.
É bom que lute para melhorar a lei! Quem gosta do futebol brasileiro vai agradecer.

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