quarta-feira, 28 de julho de 2010

Opinião / Agitando o papo



Lauro Freitas Fº
esporteagito@gmail.com

Quando a esmola é demais até o santo desconfia!

Desculpem o velho chavão aí do título. Mas, como tricolor apaixonado que sou, já começo a ficar com o pé atrás diante de tanta “boa notícia”.
Primeiro, a declaração de amor eterno do artilheiro e capitão Fred ao Flu, aparentemente esnobando propostas do exterior e afirmando que “se o clube quiser, assino contrato vitalício”. Depois, a chegada de Muricy Ramalho e a rápida ascensão do time às primeiras colocações no Brasileiro – gostinho que não saboreávamos desde 2006, se não me engano.
Mais recentemente, a notícia do acerto com o armador Deco, do Chelsea, que teria preferido o Tricolor das Laranjeiras a convites do Corinthians, do Palmeiras e do Botafogo, pela chance de ser comandado por Muricy. E a surpresa maior: o “fico” do treinador, dando adeus (pelo menos por enquanto) a seu sonho, que é o de todo técnico brasileiro, de comandar a seleção pentacampeã mundial e ainda mais na Copa que será disputada em nosso país.
Chega de novidades? Não! Nesta quarta-feira (28 de julho), a diretoria tricolor anunciou a contratação do atacante Washington, o Coração Valente (foto), que rescindiu com o São Paulo e acertou sua volta ao Fluminense onde, segundo palavras de seu empresário Gilmar Rinaldi, “se sente em casa”.
Desacostumado a tanta felicidade, uma pulguinha começou a me coçar atrás da orelha: como é que, de uma hora para outra, o Fluminense virou o “todo poderoso” do futebol brasileiro, capaz de seduzir um astro internacional como Deco, fazer o melhor técnico do Brasil por três anos seguidos abrir mão de um convite para treinar a seleção, segurar o melhor centroavante do país (quando está em forma, é bem verdade) e convencer jogadores como Emerson Sheik, Belletti e, agora, Washington a preferirem as Laranjeiras a outros grandes clubes do Brasil?
Será que estou “viajando” ou estas minhas desconfianças procedem? Vou colocá-las para que os leitores, tricolores ou não, avaliem se compartilham as mesmas dúvidas.
1) O retorno de Washington. Ora, se o motivo dele rescindir com o São Paulo foi o fato de estar na reserva do Fernandão e, agora também, do recém-contratado Ricardo Oliveira, por que assinaria com o Fluminense já sabendo de antemão que será banco do Fred? Ou será que Muricy pensa em escalar dois centroavantes de ofício no time (o que acho difícil)? Ou será – temor dos temores – que na surdina e na calada da noite, nosso artilheiro, capitão e ídolo já estaria negociado? Lembremos que a famigerada “janela” está aberta até o início de setembro.
2) A permanência de Muricy. Na reunião que teve com os membros do Conselho Deliberativo do clube nesta terça-feira (27 de julho), o vice de futebol Alcides Antunes, respondendo a questionamento de um conselheiro sobre se o clube havia forçado a permanência do técnico e que ele poderia estar insatisfeito, respondeu garantindo que “hoje ele está bem mais feliz aqui no Fluminense até mesmo do que antes de receber o convite da CBF”. Será mesmo? É muito bom pra ser verdade.
3) O poderio financeiro do patrocinador. A Unimed parece não ter limites para gastar com o futebol tricolor. Para segurar o Fred, conforme notícia confirmada pelo próprio jogador em seu blog, o clube e o procurador de Fred já estavam negociando ajustes no atual contrato que vai até 2013. Por ajustes, entenda-se aumento de salário – sabe-se que, pelo compromisso até então em vigor, Fred ganhava cerca de R$ 400 mil por mês. O Deco, pela lógica, não viria por menos de R$ 500 mil. Muricy, que segundo as “más línguas” fechou com o Flu até o final do ano por cerca de R$ 450 mil, teve o contrato prorrogado até o fim de 2012. Penso que uma promessa de menos de R$ 600 mil não tiraria o treinador da seleção. Pode ser, mas não creio sinceramente, que o Coração Valente tenha custado menos de R$ 200 mil mensais, valor semelhante ao que deve ter levado o Sheik a preterir o seu clube de coração, o Flamengo, pela camisa tricolor. O Belleti deve estar na mesma faixa, mais pelo nome que tem do que pelo seu futebol, diga-se de passagem. Somente nesse pacote, o patrocinador teria então um investimento mensal superior a R$ 2 milhões, fora o que contratualmente contribui para o clube (aproximadamente R$ 1,5 milhão, de acordo com o noticiário da mídia especializada). Assim, vem a dúvida: e se o Fluminense não ganhar este Brasileirão e nem se classificar (toc, toc, toc) para a Libertadores, as torneiras da patrocinadora continuarão abertas para o clube no ano que vem? Estaríamos vivendo apenas um sonho numa noite de verão?
4) E, finalmente, a questão política do clube. Até pouco tempo atrás, o cardiologista Roberto Horcades (presidente do Fluminense) e o pediatra Celso Barros (presidente da Unimed) viviam se bicando politicamente. Houve até um movimento para o impeachment de Horcades. O presidente quase afastou Fred do clube no início do ano, ao sugerir que proporia uma redução de salário ao nosso ídolo. De repente, as coisas se acalmam e a Unimed abre os cofres para fortalecer o clube. Mas tem eleição no fim do ano. Será que nada mesmo é capaz de abalar esse grandioso projeto tricolor, nem mesmo um eventual revés político do grupo apoiado pelo Dr. Celso Barros nas urnas?
Espero de coração tricolor que meus temores sejam infundados. Mas, é como diz outro daqueles chavões populares pra lá de batidos: gato escaldado tem medo de água fria.

Um comentário:

João disse...

Engraçado como se pode escrever tanto com pouca ou nenhuma base factual...