segunda-feira, 16 de julho de 2012

BOXE / Quando o queixo faz a diferença


Danny Garcia (à esquerda) acerta um dos golpes
que derrubaram o favorito Amir Khan
Foto: site oficial do WBC

Boxeador ‘azarão’ conquista dois cinturões mundiais em duas lutas e sai do anonimato para um lugar de destaque na galeria dos melhores pugilistas da atualidade

Lauro Freitas Fº
editor do blog
Na linguagem da nobre arte, costuma-se chamar de “queixo de vidro” o pugilista que não tem muita resistência a golpes mais potentes desferidos pelos adversários. O lendário Mike Tyson, em sua fase espetacular, nunca tivera seu queixo devidamente testado, tal a volúpia e a força com que se atirava para cima de seus oponentes imediatamente após o primeiro soar do gongo, via de regra, encerrando a contenda sem ao menos dar tempo de ser atingido. Coube ao obscuro James Buster Douglas, no histórico e polêmico combate realizado no Japão, em fevereiro de 1990, revelar ao mundo o verdadeiro ‘calcanhar de Aquiles’ do mito: seu queixo. Despojado da condição física privilegiada dos tempos de reinado absoluto, Tyson, em seu ocaso pós-prisão, virou um lutador comum e frágil, já que sem vigor para o ataque tornou-se incapaz de defender o próprio queixo.
Evander Holyfield também foi outro supercampeão do boxe algumas vezes traído pela dificuldade de assimilação (resistência a golpes, no jargão pugilístico).
E foi justamente o queixo duro de um e o fraco de outro que decidiu uma das mais sensacionais lutas de boxe dos últimos anos, como a que se viu neste sábado (14 de julho), no Mandalay Bay Events Center em Las Vegas (EUA), pela unificação dos cinturões da categoria superleve da Associação Mundial de Boxe (AMB) e do Conselho Mundial de Boxe (CMB).
De um lado do ringue, o até então favorito para a conquista do título unificado, o britânico Amir Khan, 25 anos, campeão mundial pela AMB. Do outro, o “azarão” Danny Garcia, norte-americano de ascendência portorriquenha, 24 anos, detentor do cinturão do CMB.
Até o início da luta, ou para ser mais preciso, até o meio do terceiro round, pouco se acreditava nas possibilidades de Garcia, que defendia pela primeira vez o título mundial conquistado em março deste ano ao vencer o experiente Erik Morales, por decisão unânime dos juízes. Desconfiava-se que a vitória de Garcia – tido como um mero coadjuvante no mundo do boxe, apesar de sua trajetória invicta de 23 vitórias com 14 nocautes – sobre Morales fora mera obra do acaso ocorrida num mau dia do ex-campeão.
Do outro lado, Amir Khan, com seu cartel de 25 lutas, 2 derrotas e 18 nocautes, era considerado um fenômeno no boxe. Ágil, rápido e preciso. Qualidades essas que fizeram dos dois primeiros rounds da luta entre os campeões um verdadeiro “passeio” de Khan sobre Garcia. Logo no início da luta, o britânico abriu um pequeno corte acima do olho de seu adversário, que parecia sem saber o que fazer para encurtar a distância e furar a guarda do campeão da AMB.
Veio o terceiro round e a disputa, que já estava quente, ficou eletrizante. Então, o queixo passou a ser o termômetro da luta. Khan não parava de atacar. Garcia, mesmo machucado, não parecia sentir muito o castigo e começou a reagir. Partiu para cima e Khan, confiante em seu desempenho e talvez por desconhecer o adversário, resolveu definir a parada, mas abrindo a sua guarda. Aí surgiu o contragolpe mortal: com um violento gancho de esquerda, Garcia levou o favorito à lona. Cambaleante, o valente pugilista britânico levantou-se e conseguiu levar o round até o final.
No assalto seguinte, Amir Khan até esboçou uma pequena reação, mas o norte-americano foi impiedoso e derrubou Khan mais duas vezes. O britânico chegou a se levantar, mas o árbitro Kenny Bayless, acertadamente encerrou o combate com 2 minutos 28 segundos do quarto round.
O “queixo de vidro” de Amir Khan fez a diferença. Danny Garcia fez história em pouco mais de três meses. Derrotou dois campeões mundiais da primeira linha, tomou-lhes os cinturões, continua invicto, eliminou as desconfianças e entrou definitivamente para a elite do boxe mundial. Quem poderá detê-lo?

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