Danny Garcia (à esquerda) acerta um dos golpes que derrubaram o favorito Amir Khan Foto: site oficial do WBC |
Boxeador ‘azarão’ conquista dois cinturões mundiais em duas
lutas e sai do anonimato para um lugar de destaque na galeria dos melhores
pugilistas da atualidade
Lauro Freitas Fº
editor do blog
Na linguagem da nobre arte, costuma-se chamar de “queixo de
vidro” o pugilista que não tem muita resistência a golpes mais potentes
desferidos pelos adversários. O lendário Mike Tyson, em sua fase espetacular,
nunca tivera seu queixo devidamente testado, tal a volúpia e a força com que se
atirava para cima de seus oponentes imediatamente após o primeiro soar do gongo,
via de regra, encerrando a contenda sem ao menos dar tempo de ser atingido.
Coube ao obscuro James Buster Douglas, no histórico e polêmico combate
realizado no Japão, em fevereiro de 1990, revelar ao mundo o verdadeiro ‘calcanhar
de Aquiles’ do mito: seu queixo. Despojado da condição física privilegiada dos
tempos de reinado absoluto, Tyson, em seu ocaso pós-prisão, virou um lutador
comum e frágil, já que sem vigor para o ataque tornou-se incapaz de defender o
próprio queixo.
Evander Holyfield também foi outro supercampeão do boxe
algumas vezes traído pela dificuldade de assimilação (resistência a golpes, no
jargão pugilístico).
E foi justamente o queixo duro de um e o fraco de outro que
decidiu uma das mais sensacionais lutas de boxe dos últimos anos, como a que se
viu neste sábado (14 de julho), no Mandalay Bay Events Center em Las Vegas
(EUA), pela unificação dos cinturões da categoria superleve da Associação Mundial
de Boxe (AMB) e do Conselho Mundial de Boxe (CMB).
De um lado do ringue, o até então favorito para a conquista
do título unificado, o britânico Amir Khan, 25 anos, campeão mundial pela AMB.
Do outro, o “azarão” Danny Garcia, norte-americano de ascendência portorriquenha,
24 anos, detentor do cinturão do CMB.
Até o início da luta, ou para ser mais preciso, até o meio
do terceiro round, pouco se acreditava nas possibilidades de Garcia, que
defendia pela primeira vez o título mundial conquistado em março deste ano ao
vencer o experiente Erik Morales, por decisão unânime dos juízes.
Desconfiava-se que a vitória de Garcia – tido como um mero coadjuvante no mundo
do boxe, apesar de sua trajetória invicta de 23 vitórias com 14 nocautes –
sobre Morales fora mera obra do acaso ocorrida num mau dia do ex-campeão.
Do outro lado, Amir Khan, com seu cartel de 25 lutas, 2
derrotas e 18 nocautes, era considerado um fenômeno no boxe. Ágil, rápido e
preciso. Qualidades essas que fizeram dos dois primeiros rounds da luta entre
os campeões um verdadeiro “passeio” de Khan sobre Garcia. Logo no início da
luta, o britânico abriu um pequeno corte acima do olho de seu adversário, que
parecia sem saber o que fazer para encurtar a distância e furar a guarda do
campeão da AMB.
Veio o terceiro round e a disputa, que já estava quente,
ficou eletrizante. Então, o queixo passou a ser o termômetro da luta. Khan não
parava de atacar. Garcia, mesmo machucado, não parecia sentir muito o castigo e
começou a reagir. Partiu para cima e Khan, confiante em seu desempenho e talvez
por desconhecer o adversário, resolveu definir a parada, mas abrindo a sua
guarda. Aí surgiu o contragolpe mortal: com um violento gancho de esquerda,
Garcia levou o favorito à lona. Cambaleante, o valente pugilista britânico
levantou-se e conseguiu levar o round até o final.
No assalto seguinte, Amir Khan até esboçou uma pequena
reação, mas o norte-americano foi impiedoso e derrubou Khan mais duas vezes. O
britânico chegou a se levantar, mas o árbitro Kenny Bayless, acertadamente
encerrou o combate com 2 minutos 28 segundos do quarto round.
O “queixo de vidro” de Amir Khan fez a diferença. Danny
Garcia fez história em pouco mais de três meses. Derrotou dois campeões
mundiais da primeira linha, tomou-lhes os cinturões, continua invicto, eliminou
as desconfianças e entrou definitivamente para a elite do boxe mundial. Quem
poderá detê-lo?
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