Célio Pezza
Infelizmente vemos com freqüência cenas de extrema violência por parte de indivíduos que se intitulam torcedores de um ou outro time de futebol, em especial durante jogos considerados clássicos nas grandes cidades. Durante um jogo entre Palmeiras e Corinthians na cidade de São Paulo, assistimos a mais um deplorável espetáculo que teve como desfecho duas mortes e diversas pessoas em estado grave. As imagens na TV mostraram centenas de pessoas armadas com pedaços de pau, canos e armas de fogo, se batendo contra outras, pelo único motivo de serem torcedores de times rivais.
A polícia, impotente e sem a menor chance de conter a onda de ódio que se espalhou pelas ruas, tentava controlar sem sucesso aquela horda de bárbaros. Após a carnificina, aqueles loucos simplesmente entraram no estádio do Pacaembu e foram assistir ao jogo como se nada tivesse acontecido.
Como explicar o ocorrido? Como justificar tamanha violência ligada a um espetáculo de futebol, criado para o lazer e diversão? A única explicação é que o Homem se transformou numa bomba, armada e sempre prestes a explodir. Quando está só, este instinto assassino é bloqueado mais facilmente e o indivíduo suporta sem explodir e mostrar sua verdadeira face; quando se reúne em um grupo maior, como é o caso das torcidas, em especial as uniformizadas, existe o incentivo coletivo e sua parte sombria e assassina vem à tona.
É como um lobo da mesma matilha, que quando um deles uiva dando o comando para atacar, todos os outros vão sem pensar. Nesta hora, o aparentemente pacato cidadão se transforma na besta raivosa, como no conto do médico e o monstro. Toda a sua frustração como ser humano, toda sua raiva contra tudo aquilo que o incomoda diariamente, subitamente vem à tona e ele se torna uma verdadeira fera.
Parte da humanidade está dando mostras diárias de uma queda brutal e, no fundo, estamos nos acostumando a ela. Esta é a verdade.
Antigamente, quando acontecia um acidente com vítima no trânsito, era uma comoção geral; agora, quem está ao lado pragueja devido ao congestionamento, sem se importar com a vítima. Antigamente as pessoas iam a um estádio de futebol para passar o tempo, torcer pelo seu time e apreciar um esporte. Agora, muitos vão para brigar e extravasar suas frustrações em cima de outro ser humano. No caminho do estádio, matam e desviam dos mortos, sem dar nenhuma importância à vida.
Célio Pezza é escritor e autor de diversos livros, entre eles: As Sete Portas, Ariane, e o seu mais recente A Palavra Perdida. Saiba mais em www.celiopezza.com
Um comentário:
Matéria de excelente nível. Retratando fielmente o atual estágio, melhor dizendo, condicão, que me parece irreversívil,pois, esse estado de comportamento, tem cauas sociais profundas de total insatisfação, que são extravazadas nessas ocasiões e, muitos inocentes acabam pagando com o seu bem mais precioso. A VIDA.
Postar um comentário