A relutância em admitir que o auge do sucesso, os tempos de glória, de brilho e de glamour não duram para sempre é um problema que, via de regra, deixa manchas negras em currículos, trajetórias e cartéis vitoriosos, estes sim, eternizados na História.
E isso não acontece apenas com as celebridades do mundo das artes cênicas, da música e do futebol. Também os grandes mitos do boxe não estão isentos à soberba, ao despreparo para viver longe dos holofotes e à falta de humildade para reconhecer que o tempo passa para todos e que a fila anda. Aconteceu com Joe Louis, com Roberto Mano de Piedra Duran, com Mike Tyson e outros.
O que eu vi na madrugada deste domingo (23 de janeiro), pela tevê, foi mais uma triste constatação do ocaso de uma lenda. Aos 48 anos, Evander Holyfield – um dos maiores campeões da história do esporte – utilizou-se de um artifício (uma cabeçada duvidosa que teria sido dada por seu oponente, Sherman Willians, das Bahamas) para não voltar do intervalo do terceiro para o quarto round, alegando falta de condições, e assim manter o cinturão dos pesados pela Federação Mundial de Boxe (WBF), já que a luta foi considerada no contest, ou seja, sem resultado.
O combate aconteceu no While Sulphur Spings, West Virginia, nos Estados Unidos, e Holyfield chegou a ser vaiado ao abandonar a luta, porque a imagem reproduzida nos telões e na transmissão da televisão mostrava que o sangramento no supercílio do lutador estava estancado e ele aparentava perfeitas condições de seguir lutando.
Ressalte-se que, apesar de aparentar melhor forma física que seu adversário, 10 anos mais jovem que ele, The Real Deal foi totalmente dominado por Willians em dois dos três rounds da luta, chegando, inclusive, a dobrar os joelhos ao receber alguns golpes do desafiante, evidenciando a fragilidade de sua resistência, agravada pelo tempo. Por ter origem em uma categoria inferior à dos pesos pesados (a dos cruzadores), Holyfield nunca foi um grande assimilador de golpes, mas compensava essa deficiência com uma extrema agilidade que o fazia um lutador diferenciado entre pugilistas mais fortes, mais altos e mais pegadores.
Hoje em dia menos ágil e quase cinqüentão, o lendário pugilista ainda se agarra ao desejo de somente encerrar sua carreira depois de recuperar o cinturão unificado, que já foi dele, das três maiores entidades do boxe: o Conselho Mundial (CMB), a Associação Mundial (AMB) e a Federação Internacional (FIB). Isto quer dizer, vencer os irmãos Klitscho e o britânico David Haye.
Triste ilusão. Ainda mais depois do lamentável espetáculo ao qual presenciei neste final de semana.
E isso depois de ficar acordado até as três e meia da madrugada, aguentando desde a meia-noite uma sequência de preliminares chatas, com lutadores obesos e inexpressivos abusando de clinches (agarrões).
Definitivamente, Evander Holyfield não precisava passar por essa.
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