segunda-feira, 1 de abril de 2013

OPINIÃO /Porque não temos estádio no Rio de Janeiro


João Henrique Areias

Falar é fácil, fazer é difícil (pensador desconhecido?)

A atual situação do futebol na capital da Copa e das Olimpíadas é, no mínimo, constrangedora.
Dos doze maiores times do país (RJ - SP - MG - RS), somente dois não tem estádio - Flamengo e Fluminense. Até em BH, onde Cruzeiro e Atlético não possuem estádios próprios, fizeram acordos com Mineirão e Independência respectivamente.
Falta de planejamento, visão e principalmente falta de profissionalismo dos nossos dirigentes?
Em 2004, quando assumi o marketing do Fla Futebol, junto com Júnior (diretor esportivo) e José Maria Sobrinho (diretor de administração e finanças), além de impulsionar a inauguração dos dois primeiros campos do CT Ninho do Urubu, convencemos a diretoria a levar a maioria dos jogos do Brasileirão para Volta Redonda (Estádio da Cidadania). O Maracanã confirmava ser o estádio mais caro do Brasil. De uma renda bruta em 2003 de R$ 2,2 milhões, o Flamengo levou para casa apenas R$ 200 mil, ou seja, 9% do que arrecadou. A Suderj ficou com R$ 500 mil e a CBF + FERJ com outros 500 mil.
As demais despesas, foram com arbitragem, exames antidoping, etc. Em Volta Redonda, o Flamengo garantiu R$ 100 mil líquidos mínimo por jogo com a prefeitura, mais 50% de outras receitas com concessões, espaços publicitários, etc. e, o mais importante, começava a adquirir experiência com a gestão de um estádio. Em 2005, diante da inércia do Flamengo, e sem o Maracanã, por conta das obras para o Pan 2007, o Fluminense tomou a dianteira e alugou o Estádio da Cidadania.
Ainda em 2005, fui chamado pelo então presidente do Botafogo, Bebeto de Freitas, que queria alugar, reformar e ampliar de 5 mil para 30 mil lugares o estádio da Portuguesa na Ilha do Governador, para que sua equipe e o Flamengo ali jogassem o Brasileirão 2005. Ele me chamou, pediu para levar a ideia ao presidente do Flamengo, Márcio Braga, que aceitou e me contrataram para gerenciar o projeto. Em 9 semanas captamos os recursos, fizemos as obras e os dois clubes jogaram 36 jogos na Arena Petrobras (vendemos o naming rights para a empresa que patrocinou as arquibancadas metálicas) e tivemos o segundo melhor público daquele ano, só perdendo para o Mineirão.
No final de 2009, a pedido do então presidente da Portuguesa, Antonio Augusto, procurei Flamengo e Fluminense para viabilizar um estádio com arquibancadas fixas, agora para 23 mil pessoas. Márcio Braga pelo Flamengo e Horcades pelo Fluminense me deram as autorizações e conseguimos a palavra do Governador Sérgio Cabral (veja no projeto no grupo com link abaixo) de que ajudaria, visto que o Rio iria precisar da arena em função dos megaeventos que estavam por vir.
Como em dezembro houve eleição no Flamengo, voltei ao clube no início de 2010, para apresentar o projeto para a nova diretoria, capitaneada por Patrícia Amorim e Hélio Ferraz e renovar a autorização. A presidente não participou da reunião e o VP avisou que eu teria de ser rápido porque ele tinha um compromisso. Ou seja, total falta de interesse. O detalhe é que nenhum dos clubes teriam de investir um só centavo. Bastava apoio político e interesse em usar a arena. Como contrapartida pelo investimento que iriam proporcionar à Portuguesa, poderiam utilizar o estádio como se deles fossem, por um número de anos que seria acertado pelas três partes.
Com a atual diretoria do Flamengo que ajudei a eleger, trabalhando na coordenação da campanha, demonstrei minha preocupação ainda durante a campanha. Num sábado chuvoso, no final de 2012, fui com o Eduardo Bandeira de Mello (atual presidente do Flamengo) e seu filho, visitar os estádios da Portuguesa, Bangu e Campo Grande (interditado). Na semana seguinte à eleição, fui com pessoas do marketing e do futebol a Volta Redonda, conversar com o prefeito Neto e visitar o CT João Havelange.
Com relação ao Engenhão, ainda em 2008, visitei-o com dois alunos - Alia Maas e Rômulo Macedo - de um Curso de Gestão de Arenas que ministrei no Rio. O relatório está no grupo sobre Gestão de Estádios, no link abaixo.
Ainda em 2008, quando dei assessoria para a Federação Capixaba de Futebol, sugeri ao governo do estado, através de seu secretário de Fazenda, José Teófilo, que comprassem o estádio do Rio Branco e construíssem uma arena moderna, devido a falta de bons estádios no estado.
Assim o fizeram e o vice governador Ferraço, meses depois, me contatou através do Sérgio Sotelino, um amigo comum, para que eu o acompanhasse numa visita ao Engenhão. Disse ao Sérgio que estava fora do Rio, não poderia ir, mas que ele visitasse o Engenhão, um estádio que custou cerca de R$ 500 milhões, para ver tudo que não deveria ser feito num estádio, mas que também visitasse o Estádio da Cidadania, um estádio que custou R$ 16 milhões (2% a 3% ) do Engenhão, com metade da capacidade (20 mil pessoas), e que era um exemplo de obra pública, funcionando sete dias por semana (universidade à distância, centro de fisioterapia, academia para a 3ª idade, etc).
O novo estádio do Rio Branco foi inspirado no Estádio da Cidadania, após visita do chefe da casa civil e do secretário de esportes do Espírito Santo a Volta Redonda.
Visitem o grupo abaixo e vejam o relatório do Engenhão produzido pela Alia Maas e Rômulo Macedo e o projeto do estádio na Portuguesa apresentado ao Flamengo em 2010 e o Relatório da Arena Petrobras. Tem também um guia sobre estádios que traduzi para meus alunos.
Saudações esportivas.

*João Henrique Areias, ex-vice-presidente de Marketing do Flamengo, é um dos precursores do marketing esportivo do país 

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