segunda-feira, 13 de abril de 2009

Grandes nomes da nossa imprensa esportiva / OLDEMÁRIO TOUGUINHÓ (1934-2003)

Um homem chamado notícia


Foi num dia 20 de janeiro – no Rio, feriado de São Sebastião, padroeiro da cidade – que em 2003 o Brasil perdeu um de seus mais importantes jornalistas esportivos. Um profissional “que vivia a notícia 24 horas por dia”, na definição de seus companheiros mais próximos.
Oldemário Vieira Touguinhó nasceu em Campos, em 8 de novembro de 1934, filho de Mário Gomes Touguinhó e Oldema Vieira Touguinhó. O pai era dono de um açougue, mas os negócios não iam bem. Mudou-se para o Rio e montou uma quitanda na Lapa, quando Oldemário tinha apenas cinco anos. Filho único, Oldemário nem por isso foi poupado.
Morava no Catumbi e ali aprendeu as primeiras letras, na Escola Municipal Estados Unidos. O secundário, pôde fazê-lo no Colégio Vera Cruz, na Tijuca. Mas nas férias e mesmo nas horas vagas tinha que ir para a quitanda ajudar a vender banana, laranja e verduras.
Mas de uma coisa Oldemário não abria mão: a bola, que jogava na rua com os amigos, e a leitura de jornais e de tudo que lhe falasse de futebol. Sem ainda pensar na profissão que abraçaria pelo resto da vida pouco tempo depois, ele já fazia um arquivo de recortes e fotos de seus ídolos.
Foi então que um vizinho de porta, Antônio Andrade, que era fotógrafo do Jornal do Brasil, falou dele, uma e muitas vezes ao então editor de esportes do jornal, Carlos Lemos. E assim, em fins de 1958, o jovem Oldemário entrou para o jornal de onde nunca mais sairia.

Obsessão por informar
Com a mesma facilidade e competência com que cobria um jogo de futebol, Oldemário Touguinhó sabia apurar e descrever o lançamento de um foguete no Cabo Canaveral. Em 1960, cobriu com brilho a inauguração de Brasília. E em 1968 estava no México cobrindo os preparativos dos Jogos Olímpicos. De repente os estudantes saem à rua da capital para protestar contra a realização dos jogos. A polícia entra em choque e as balas não paravam, foram mais de 100 os mortos. Oldemário viu e apurou tudo dando aos leitores um relato do mais pungente realismo.
Quatro anos depois, nas Olimpíadas de Munique, novamente Oldemário mostra sua versatilidade ao descrever o atentado dos palestinos à delegação israelense. Foi o único repórter a entrar na Vila Olímpica onde estavam os israelenses. Vestiu um uniforme de atleta e ninguém lhe barrou o caminho. Correu pelos corredores do subterrâneo.
Nos 41 anos em que trabalhou no JB , Oldemário foi, acima de tudo e só, repórter. Não tinha hora de sair nem nunca tirou férias. Dizia que não as tirava porque as três coisas de que mais gostava eram a família, o jornalismo e o Rio de Janeiro.
Era um obcecado pelo trabalho. Em cada jornada, bastavam-lhe cinco ou seis horas para descansar. Quando já tinha rodado o jornal e voltara para casa, muitas vezes um último telefonema para as suas fontes o obrigava a retornar e fazer nova edição só para manter os leitores bem informados.

O compadre do Rei
Oldemário Touguinhó cobriu 10 Copas do Mundo – desde a do Chile, em 1962, até a da França, em 1998 – além de várias Olimpíadas. Presidiu duas vezes a Associação dos Cronistas Esportivos do Rio. Viajou muito. Quase não havia país para onde não tivesse se deslocado no desempenho da profissão. E por onde passou deixava amigos, tão agradável era sua conversação e tão prestativo ele se mostrava.
Ganhou vários prêmios, entre eles o Esso de Informação Esportiva de 1981 e 1983. Teve artigos publicados no The New York Times, France Football e Number (Japão). Escreveu dois livros: As Copas que eu vi (Relume Dumará, 1994) e Maracanã (1998), que narra a história do estádio, inaugurado em 1950. Foi também colaborador dos jornais Estado de São Paulo e Jornal da Tarde por 36 anos.
Nada o dispensava do dever de informar. Mesmo quando foi pauteiro ou editor, nunca deixou de escrever. E ninguém como ele dominava o assunto bola. Fosse um jogo decisivo do campeonato nacional ou um treino de rotina do seu Botafogo. Sabia ser imparcial na hora de analisar a atuação dos jogadores. Com razão, todos eles, mesmo os maiores craques, tinham por Touguinhó a maior admiração. Alguns se tornaram até fiéis amigos.
Foi o caso do Rei Pelé, de quem era compadre, que fez questão de comunicar ao mundo seu primeiro casamento através do amigo Touguinhó. Outro furo histórico foi a notícia da convocação de Romário, por Zagallo, num dia em que todos os jornais do país afirmavam o contrário. Ao chegar à redação, Oldemário foi aplaudido de pé pelos colegas.
Além do futebol, Oldemário tinha outra paixão: o samba. Não perdia um desfile das escolas do Grupo Especial. Que o diga sua escola favorita: a Mangueira. Em público nunca vestiu sua camisa do Botafogo. Mas, na passarela, só ia com a verde-e-rosa.
(Este texto foi compilado e adaptado de matérias publicadas na imprensa por ocasião do falecimento de Oldemário Touguinhó, em janeiro de 2003)

2 comentários:

Thiago Touguinhó da Costa disse...

Era meu tio =) e tenho muito orgulho disso.
O melhor jornalista que já conheci na minha vida.
Inteligente, esforçado e versátil na sua profissão.
Vivia a notícia 24 hs e ainda sabia dividir a atenção com a família.
Te amo muito tio
Thiago Touguinhó da Costa

Unknown disse...

O meu nome é Serafim Jorge da Costa Ramalho (filho de Manuel da Costa Ramalho e Maria Rodrigues da Costa), natural da freguesia de TOUGUINHÓ (Distrito do Porto, concelho de Vila do Conde).
Quando me apercebi que um dos maiores vultos do jornalismo brasileiro se chamava Oldemário Touguinhó, fiquei muito curioso. Tanto mais que em Portugal existem mais de quatro mil localidades mas apenas aquela onde nasci tem esse estranho nome de Touguinhó.
A vossa família porventura sabe qual a origem desse nome?

Peço desculpa se vos aborreci com este assunto.
É pura curiosidade.

Serafim Ramalho