Uma das melhores equipes do Brasil dribla as dificuldades de uma modalidade esvaziada com muito amor à camisa e ao esporteDa Redação do EsporteAgito
Em julho último, a equipe de futsal feminino adulto do Mackenzie Sport Club sagrou-se campeã invicta do Campeonato Carioca promovido pela Liga Rio Futsal ao vencer o River por 6 a 3, depois de chegar à final com uma goleada histórica de 20 a 0 sobre o Nilopolitano.
Cerca de um mês antes, desfalcada de nada menos do que seis jogadoras (cedidas à Marinha do Brasil para a seleção que ganhou o título do Mundial Militar de futebol de campo, em Minesotta, nos Estados Unidos), a equipe foi a Pindamonhangaba (SP) participar da Copa Brasil e voltou de lá com o vice-campeonato – perdeu na final, por 2 a 1, para o Barra de São Francisco, do Espírito Santo – mas sendo considerado o melhor time da competição, por seu desempenho.
Nenhuma novidade para o clube que pelo menos nos últimos 10 anos é a principal força do futsal feminino do nosso estado. Campeão estadual em 2003 e 2007, o Mackenzie coleciona inúmeros troféus na categoria, onde reina absoluto. Somente de 2004 para cá foram 22, entre campeão e vice das competições que disputou.
Base das mais recentes seleções cariocas, o Mackenzie se destaca também pela perseverança com que se dedica na preparação da equipe, dando uma verdadeira lição de amor ao esporte aos grandes clubes de massa, hoje movidos unicamente pelo interesse do retorno financeiro e não pelos princípios da desportividade.
Afinal de contas, segurar por longo tempo a hegemonia no futsal feminino carioca não é tarefa das mais fáceis e requer muita dedicação e um planejamento bem cuidado em seus mínimos detalhes.
Um time diferenciado
Para começar, é preciso adaptar-se à triste realidade dos esportes ditos “amadores” no Rio de Janeiro, que não recebem nenhum apoio e vivem à míngua, numa situação de completa penúria.
Com habilidade e inteligência, o Mackenzie tenta driblar essa dificuldade concentrando seus esforços apenas no time adulto, abrindo mão de disputar a modalidade nas categorias de base, pois isso significaria dividir os poucos recursos existentes na preparação de mais de uma equipe.
Mas para o vice-presidente administrativo Dalto Mathias Corrêa, também coordenador dos esportes femininos do Mackenzie, o grande segredo do sucesso do time é a diferenciação e essa diferença começa, segundo ele, no nível intelectual das atletas.
“Acredito que um dos fatores do nosso sucesso está no alto grau de escolaridade das jogadoras. Todas são universitárias e muitas delas, inclusive, já formadas”, diz o dirigente. A maioria das atletas que compõem o atual elenco, ressalta Dalto, são formadas no próprio clube e outras foram selecionadas em universidades, além de algumas indicadas que vieram de outras equipes, até mesmo do exterior.
A infraestrutura oferecida pelo clube também propicia, na opinião do vice-presidente, o bom desempenho da equipe dentro de quadra. “As nossas jogadoras são verdadeiramente amadoras. Elas fazem parte integrante do quadro social do clube. São associadas. E nós damos a elas total assistência médica, além de bolsas de estudo, através convênio com faculdades, vale-transporte e alimentação”, explica Dalto.
Trabalho campeão
Orgulhoso do trabalho que comanda no futsal feminino do clube há cinco anos e demonstrando ser um fã incondicional das meninas, o dirigente tem dificuldade para apontar os destaques da equipe, citando praticamente todo o elenco. “Destacaria Cida, Ziele, Fernandinha, Jasna – que jogou na Espanha e em Portugal -, Robertinha, Ranny, a goleira Mariana e a Índia. E como revelações eu apontaria a Giane, a Francine e a Grace”, enumera Dalto, sem disfarçar a justificável tietagem.
As três atletas apontadas pelo dirigente como revelações da equipe foram, inclusive, convocadas para a seleção carioca que disputou, em setembro, o Campeonato Brasileiro Sub-20 feminino. Além delas, a equipe ainda conta com Robertinha, também com passagens por seleções cariocas. No comando técnico do time está o experiente Felipe Orelha, ex-jogador de futsal do Vasco da Gama e da seleção brasileira.
Contudo, mesmo sendo reconhecidamente uma das melhores equipes de futsal feminino do país, o Mackenzie não está disputando – assim como nenhum outro clube do Rio – a Liga Nacional de Futsal, principal competição brasileira da modalidade. “Isto é um reflexo direto da falta de patrocínio e de apoio tanto por parte dos governos estadual e municipal quanto da iniciativa privada, que ainda não acredita na força do esporte”, critica o vice-presidente Dalto.
Uma prova recente desse descaso foi o cancelamento, pela Federação do Rio, do campeonato estadual deste ano por falta de competidores: apenas o Mackenzie e a Liga de Cabo Frio se inscreveram. “Para não ficarmos sem atividade, o jeito foi nos inscrevermos no campeonato de peladas (society), patrocinado pela Globo, Fiat e Itaú”, lamenta o dirigente.
O time também participará do campeonato interestadual promovido pela Liga Teresopolitana e da Taça Rio-Minas-SP.
Apesar de todos os obstáculos, as meninas do Mackenzie vão tirando de letra os percalços, dando “chapéu” nas dificuldades e seguindo firme rumo às vitórias. Como sempre!