Lauro Freitas Fº
Editor do EsporteAgito
Ver a imagem
do multicampeão Manny Pacquiao – oito títulos mundiais em categorias diferentes
e, não faz muito tempo, tido como o melhor pugilista da atualidade – tombar inerte,
rosto ao solo, fulminado ao final do sexto round por um potente e certeiro direto
desferido por seu mais duro rival, bateu em mim com a força de um choque de
realidade.
Tanto que
espantou de vez o sono com o qual briguei mais do que se estivesse em cima do
ringue. Olhei pro relógio e vi que eram quatro da matina. Lutei antes para não
cochilar e, agora, como dormir?
Por mais que
tivesse respeito pela história e pelo cartel do mexicano Juan Manuel Marquez –
coincidentemente, muito parecido com o de Pacquiao, menos na questão dos
cinturões conquistados – achei que o fantástico filipino levaria para casa mais
esse triunfo, colocando um ponto final na polêmica do “venceu sem convencer”
que o ex-campeão carregava como estigma nessa saga histórica do boxe que
completava seu quarto capítulo.
Só que me
dei mal. Fui nocauteado com Pacquiao. Quebrei a cara. E com ela, quebrou-se
também o encanto. Sim, meus amigos, o Pac Man não é o Superman! É de carne,
osso e músculos como todos nós. E a invencibilidade, diria nosso poetinha
Vinícius de Moraes, “só é eterna enquanto dura”.
Ainda zonzo
pela surpresa, lembrei-me do que passou pela cabeça ao ver os dois pugilistas
subirem ao ringue do MGM Grand Arena, em Las Vegas, Estados Unidos,
completamente lotado, na madrugada de domingo (9 de dezembro). Ambos empatavam
nos números e em motivação. A luta não valia título, apenas o cinturão
simbólico de “pugilista da década”, mas tinha sabor de tira-teima.
O filipino vinha
com seu espetacular retrospecto de 54 vitórias, das quais 38 por nocaute, cinco
derrotas e dois empates. Já o mexicano Marquez também vencera 54 combates, só
que com um nocaute a mais que o adversário: 39. Em compensação havia perdido
uma luta a mais – seis – e empatado uma (exatamente em um dos três confrontos
anteriores com Pacquiao).
Mas, para
mim, um detalhe talvez fizesse a diferença desta vez: enquanto Manny Pacquiao
tinha 33 anos, Marquez tinha 39. Será que em um esporte de tanta exigência
física, a idade não pesaria para o mexicano muito mais do que para o filipino?
Confesso que imaginei um nocaute espetacular para os primeiros rounds, mas,
naturalmente, o mexicano seria a vítima.
Minhas
previsões, tal qual a dos estatísticos do futebol e dos economistas de plantão,
começaram a ruir no terceiro assalto, quando uma bomba cruzada de direita
colocou Pac Man sentado no ringue, olhar atônito, como não acreditasse no que
acontecera. Recuperou-se em seguida e voltou a ser o Pacquiao agressivo e
rápido de outrora. Os rounds seguintes foram de pura adrenalina, boxe de alto
nível. No quinto, a luta voltou a se equilibrar em pontos, com a queda imposta
a Marquez pelo filipino. Até o desfecho inesperado (pelo menos para mim) do
derradeiro sexto round, o combate era sensacional e parecia que a vitória de
Pacquiao era uma questão de tempo, de pouco tempo...
Agora
refeito do susto, e com os pés bem no chão, questiono com tristeza se é chegado
o fim da era Pacquiao. Ainda que o noticiário internacional informe que o
filipino ainda não pendura as luvas, e até admita um quinto combate com Marquez,
já não tenho mais confiança em suas possibilidades contra Floyd Mayweather Jr. e
nem mesmo numa revanche contra Tim Bradley, que lhe tomou o cinturão dos
meio-médios – na ocasião, injustamente, pela contagem dos juízes. Não posso
imaginar Manny Pacquiao como um lutador comum, ou como uma estrela em
decadência.
Enfim, para
um fã de boxe que viu o mito encerrar a carreira de Oscar de La Hoya, humilhar
Shane Mosley, amassar Miguel Cotto e, literalmente, quebrar a cara de Antonio
Margarito, vê-lo cair apagado como Maguila frente a Holyfield foi um golpe duro
demais para assimilar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário