segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

OPINIÃO / Será o fim da era Pacquiao?


Lauro Freitas Fº
Editor do EsporteAgito
Ver a imagem do multicampeão Manny Pacquiao – oito títulos mundiais em categorias diferentes e, não faz muito tempo, tido como o melhor pugilista da atualidade – tombar inerte, rosto ao solo, fulminado ao final do sexto round por um potente e certeiro direto desferido por seu mais duro rival, bateu em mim com a força de um choque de realidade.
Tanto que espantou de vez o sono com o qual briguei mais do que se estivesse em cima do ringue. Olhei pro relógio e vi que eram quatro da matina. Lutei antes para não cochilar e, agora, como dormir?
Por mais que tivesse respeito pela história e pelo cartel do mexicano Juan Manuel Marquez – coincidentemente, muito parecido com o de Pacquiao, menos na questão dos cinturões conquistados – achei que o fantástico filipino levaria para casa mais esse triunfo, colocando um ponto final na polêmica do “venceu sem convencer” que o ex-campeão carregava como estigma nessa saga histórica do boxe que completava seu quarto capítulo.
Só que me dei mal. Fui nocauteado com Pacquiao. Quebrei a cara. E com ela, quebrou-se também o encanto. Sim, meus amigos, o Pac Man não é o Superman! É de carne, osso e músculos como todos nós. E a invencibilidade, diria nosso poetinha Vinícius de Moraes, “só é eterna enquanto dura”.
Ainda zonzo pela surpresa, lembrei-me do que passou pela cabeça ao ver os dois pugilistas subirem ao ringue do MGM Grand Arena, em Las Vegas, Estados Unidos, completamente lotado, na madrugada de domingo (9 de dezembro). Ambos empatavam nos números e em motivação. A luta não valia título, apenas o cinturão simbólico de “pugilista da década”, mas tinha sabor de tira-teima.
O filipino vinha com seu espetacular retrospecto de 54 vitórias, das quais 38 por nocaute, cinco derrotas e dois empates. Já o mexicano Marquez também vencera 54 combates, só que com um nocaute a mais que o adversário: 39. Em compensação havia perdido uma luta a mais – seis – e empatado uma (exatamente em um dos três confrontos anteriores com Pacquiao).
Mas, para mim, um detalhe talvez fizesse a diferença desta vez: enquanto Manny Pacquiao tinha 33 anos, Marquez tinha 39. Será que em um esporte de tanta exigência física, a idade não pesaria para o mexicano muito mais do que para o filipino? Confesso que imaginei um nocaute espetacular para os primeiros rounds, mas, naturalmente, o mexicano seria a vítima.
Minhas previsões, tal qual a dos estatísticos do futebol e dos economistas de plantão, começaram a ruir no terceiro assalto, quando uma bomba cruzada de direita colocou Pac Man sentado no ringue, olhar atônito, como não acreditasse no que acontecera. Recuperou-se em seguida e voltou a ser o Pacquiao agressivo e rápido de outrora. Os rounds seguintes foram de pura adrenalina, boxe de alto nível. No quinto, a luta voltou a se equilibrar em pontos, com a queda imposta a Marquez pelo filipino. Até o desfecho inesperado (pelo menos para mim) do derradeiro sexto round, o combate era sensacional e parecia que a vitória de Pacquiao era uma questão de tempo, de pouco tempo...
Agora refeito do susto, e com os pés bem no chão, questiono com tristeza se é chegado o fim da era Pacquiao. Ainda que o noticiário internacional informe que o filipino ainda não pendura as luvas, e até admita um quinto combate com Marquez, já não tenho mais confiança em suas possibilidades contra Floyd Mayweather Jr. e nem mesmo numa revanche contra Tim Bradley, que lhe tomou o cinturão dos meio-médios – na ocasião, injustamente, pela contagem dos juízes. Não posso imaginar Manny Pacquiao como um lutador comum, ou como uma estrela em decadência.
Enfim, para um fã de boxe que viu o mito encerrar a carreira de Oscar de La Hoya, humilhar Shane Mosley, amassar Miguel Cotto e, literalmente, quebrar a cara de Antonio Margarito, vê-lo cair apagado como Maguila frente a Holyfield foi um golpe duro demais para assimilar.

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